Vivendo e Aprendendo


"Pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas: jamais jogue alguém fora." Audrey Hepburn

Pesquisar

A maravilhosa individualidade humana

O segundo mandamento mais importante que fomos orientados a obedecer, é amar o nosso próximo como a nós mesmos. Contudo, quando pensamos em amar alguém como a nós mesmos, logo imaginamos aquilo que gostamos de receber e entendemos que devemos fazer o mesmo para os outros. Se gosto de ser elogiada, passo a elogiar às pessoas. Se gosto de receber presentes, procuro aproveitar as oportunidades para dar presentes.
Só que na verdade, amar o próximo como a nós mesmos vai um pouco além do que expressões exteriores. Muitas vezes ignoramos àquelas que afetam mais os relacionamentos, que são interiores. Existem coisas que as pessoas fazem a nós, que não gostamos, mesmo que sejam feitas com uma boa intenção. Aquilo que para uma pessoa pode ser algo extraordinário, para outra pode ser uma catástrofe. Desta forma, o primeiro passo para se amar alguém é conhecer a pessoa e saber como ela interpreta e recebe aquilo que fazemos.
Conhecer alguém é uma missão que exige paciência, dedicação e disposição. É preciso, mesmo que não seja do nosso interesse pessoal ou não agregará nada em nossa vida, que paremos e façamos perguntas, emprestando os nossos ouvidos para a pessoa compartilhar o que deseja.
Existem alguns fatores que influenciam no comportamento e receptividade das pessoas. Um dos mais comuns, são os hábitos de acordo com a cultura e outro, é a condição emocional resultante de um passado de boas ou más lembranças. Esses fatores culturais, mostram que algumas atitudes em um local, são recebidas de uma maneira positiva, já em outro, podem ser consideradas uma grande falta de respeito.
No meu condomínio, por exemplo, tenho muitas vizinhas que vivem sozinhas e são muito carentes. Procuro observar os detalhes nelas, como cortes de cabelo, armações dos óculos, roupas novas, perfumes cheirosos, dentre outros, e faço questão de elogiar ou comentar para expressar que elas tem valor e que alguém presta a atenção nelas; mesmo que elas pensem que ninguém se importa. A alegria que elas expressam ao ouvir isso, me inspira a não perder as oportunidades.
Certa vez, encontrei no elevador uma senhora que havia sido abandonada há muitos anos pelo esposo, e as filhas não queriam ficar com ela, portanto morava sozinha. Ela havia trocado a armação de óculos e eu gostei muito. Então discretamente, disse que aquela armação havia ficado muito bonita para ela. Quando ela ouviu essas palavras, começou a chorar e me contou que nem as próprias filhas haviam percebido e me agradeceu muito por ter percebido e falado. Para mim, não mudava nada o fato de falar ou não, significavam apenas palavras; mas para aquela senhora, isso expressava que ela tinha valor. Trouxe um pouco de vida e alegria para o dia triste dela.
Não falo de mentir para agradar às pessoas, e sim de aproveitar as oportunidades para encorajá-las. A questão é que quando estamos bem com nós mesmos, mesmo que aquilo que vemos não seja muito do nosso agrado, olhamos e achamos lindo, pois nosso coração está cheio de amor. Se trata de pequenos gestos simples.
É muito comum cumprimentarmos as pessoas e perguntarmos: - está tudo bem? Mas geralmente não estamos dispostos a parar e ouvir o que as pessoas desejam compartilhar. Por muitos anos, tive esse hábito, pois eu não tinha tempo para isso, estava sempre correndo atrás do tempo. Até que parei todas as minhas atividades e tive tempo. A partir do momento que parei para perguntar e passei a demonstrar que estava disposta a ouvir, as pessoas começaram a me responder e compartilhar coisas que precisavam colocar para fora.
Com isso, comecei a enxergar a importância de emprestarmos os nossos ouvidos. Quando temos essa disposição, as pessoas se abrem conosco e podemos conhecê-las de alguma maneira. As pessoas anseiam por alguém que as escute. É interessante fazermos perguntas para demonstrar interesse e preocupação. Algumas pessoas não têm ninguém com quem conversar e poucos minutos que dispusermos, serão de grande valor.
Como tenho permanecido mais em casa nos últimos anos, o meu tempo está mais flexível e me possibilita ouvir mais às pessoas. Cada pessoa que empresto meus ouvidos, não apenas compartilha algo pessoal e se sente especial, mas de uma maneira ou outra, me ensina e me trás crescimento. As pessoas são os seres de maior valor que existe na terra, só que esquecemos disso e gastamos muito tempo com coisas sem importância.
Com o tempo, precisei me policiar, pois aquilo que poderia fazer para expressar valor para determinadas senhoras, não poderia fazer com outras, como com pessoas da cultura japonesa, por exemplo. Obviamente, algumas japonesas que vivem no Brasil se adequaram mais à nossa cultura, no entanto, grande parte delas ainda é mais reservada. Se eu fizer um elogio para uma vizinha japonesa, poderá ser uma situação constrangedora, visto que ela poderá se sentir “invadida” ou constrangida, bem como poderá considerar falta de bom senso.
Com estas vizinhas, procuro prezar mais pela educação, abrir e segurar as portas para elas passarem, me oferecer para ajudar a carregar bolsas ou sacolas, e apertar o botão do andar no elevador. São pequenos gestos que expressam que elas tem valor. Após algum tempo, vou conquistando espaço, puxando conversa, e elas se sentem mais à vontade para conversar.
Um cuidado que devemos ter, é com os homens, principalmente. As nossas atitudes podem representar para eles que temos intenções, que na verdade, nem se passaram pela nossa cabeça. Certa vez, fui beber água quando estava na academia, eu estava na frente dos copos, e logo em seguida, chegou alguém do meu lado. Peguei e entreguei um copo para a pessoa. Quis ser educada e gentil, mas quando olhei para ver se era um homem ou mulher, vi que era um homem casado. Depois daquele dia, ele ficava me olhando enquanto fazia os exercícios e veio novamente atrás quando eu estava bebendo água. Tentou puxar conversa, entendendo que eu havia dado abertura com a entrega do copo. Precisei ser muito séria e fria para acabar com qualquer interpretação errada da parte dele.
Outro fato foi com um vizinho. Ele era trinta anos mais velho do que eu, um professor e coordenador universitário, solteiro. Era bastante gentil e comunicativo. Certo dia, nos encontramos no elevador e ele me perguntou onde eu estava indo. Por bobeira, comentei que estava indo fazer um trabalho. Bem prestativo, perguntou-me o assunto e disse que era a área dele. Portanto ofereceu-se para me emprestar alguns materiais, e como eu estava precisando mesmo, aceitei. Quando eu disse que aceitava os materiais, ele entendeu que eu estava interessada nele e ficou me convidando para ir ao seu apartamento. Eu já havia visto vários homens mais velhos com moças mais novas, mas jamais ia pensar que um cara daquela idade mexeria comigo.
Esse tipo de situação se repetiu diversas vezes, quando ao tentar ser agradável e gentil, transmiti uma mensagem errada a respeito da minha intenção. Não posso culpar nenhum destes homens. Cabia a mim saber o que falar e fazer, e por falta de entendimento a respeito da compreensão masculina, acabei errando. O importante foi que aprendi muito com estes erros e não precisei mais repeti-los.
Essa também é uma demonstração de amor. Quando eu aprendo que aquilo que estou fazendo, mesmo que seja um ato de educação, de bondade ou gentileza, pode estar gerando algo negativo. Num caso assim, a minha maior demonstração de amor será ter uma postura prudente diante da situação.
Desta maneira, percebemos o quanto é importante conhecermos as pessoas. Sabermos que cada ser é completamente diferente do outro. O nosso sucesso nos relacionamentos, está em nos colocarmos no lugar do outro e saber como lidar.
Tenho amigas que acham o máximo a ideia de alguém pedi-las em casamento em público. Outras apreciam muito que liguem para dar os parabéns nos seus aniversários. Algumas amam conversar pelo telefone. Muitas não gostam de usar óculos de grau. Outras gostam muito de sair e ir em eventos cheios de pessoas. Outras ainda, adoram sair para comprar roupas e até de provar diversas peças, gostam de caminhar devagar e apreciar. São características pessoais delas. Já no meu caso, não gostaria que me pedissem em casamento em público, preferiria em particular. Não gosto muito que me liguem para dar os parabéns, prefiro que me enviem uma mensagem pelo celular ou online, ou me deem só um abraço se me verem. Não gosto muito de ficar conversando pelo telefone, prefiro conversar pessoalmente. Adoro usar óculos de grau e aprecio as pessoas que usam, para alguns representam apenas lentes para melhorar a visão, para outros é um acessório que agrega no estilo. Eu até gosto de sair para ir em um restaurante calmo, dar uma volta, contudo, prefiro mil vezes ficar em casa e assistir um filme ou fazer alguma outra coisa nas horas de lazer. Até vou em shows de cantores que gosto muito; palestras, pois todos ficam sentados; gosto de teatros e orquestras; mas não suporto ambientes muito escuros e com aglomerados de pessoas, me faz mal. Até mesmo supermercados muito grandes e cheios de pessoas, me desagradam. Eu não gosto de sair para comprar roupas, exceto que esteja em uma cidade ou local propícios para aproveitar os preços e modelos que gosto. De maneira geral, quando preciso de algo que não é urgente, por exemplo, deixo o dinheiro guardado e quando saio para comer algo ou dar uma volta, dou uma olhada, e somente se gostar muito, faço a aquisição. Não gosto de ficar provando roupas, só provo se realmente tenho interesse e dinheiro para levar. Quando preciso comprar algo específico para determinada ocasião, sou extremamente focada, passo nas lojas rapidamente e meus olhos só “enxergam” aquilo que estou procurando. Mesmo quando estou calma, tenho pernas longas e costumo caminhar rápido. Isso não me impede de ver o que desejo ou preciso, nem mesmo de observar detalhes, meus olhos e mente foram treinados para operar com velocidade.
O que quero dizer com isso? Que cada um de nós tem características peculiares completamente diferentes dos outros, assim sendo, só passamos a conhecê-las através da comunicação e relacionamento. É muito incoerente afirmarmos que amamos alguém, se não estamos dispostos a conhecer à outra pessoa.
Os relacionamentos criam laços. Ao mesmo tempo que é um fato positivo, pode ser negativo. Principalmente, quando se trata da relação com o sexo oposto. Por isso que devemos cuidar com os assuntos que abordamos. No trabalho, por exemplo, tratamos de assuntos profissionais, podemos falar de esportes, carros, comércio, diversos assuntos gerais, mas evitar ao máximo compartilhar situações pessoais que envolvam as emoções. As emoções só devem ser compartilhadas com o parceiro no casamento, com a família, com amigos do mesmo sexo ou pessoas que de alguma maneira, poderão nos ajudar ou aconselhar. Em outras circunstâncias, poderão resultar na destruição de um casamento e uma família. Mesmo que não exista nenhuma intenção amorosa numa amizade, ao compartilharmos, estamos depositando “valor” como em uma conta corrente, e com o tempo, o crédito começa a ficar elevado, até que desperte o desejo de realizar o “saque”. É um fator natural da nossa natureza humana, e não adianta tentarmos contornar isso, o coração humano se comporta dessa maneira.
Portanto, nosso alvo é conhecer as pessoas para aprendermos a amá-las. Cada pessoa se sente amada de maneiras diferentes. Algumas aprenderam a entender quando as pessoas estão expressando carinho e amor. Outras não entendem, desta forma, precisamos nos esforçar para expressar corretamente. A individualidade humana é algo fascinante, as diferenças se completam e formam um contexto social maravilhoso. O desafio é cada um saber valorizar as diferenças ao invés de ter seus hábitos e opiniões como padrão.


Como posso estar no meio do povo sem me sentar na roda dos escarnecedores?

Jesus vivia no meio dos pecadores e dos religiosos; contudo, ele tinha uma missão e um propósito em cada um destes lugares. Ele não se reunia com as pessoas para compactuar com os seus costumes e práticas; ele fazia a diferença e impactava o meio por meio das suas atitudes e palavras, sempre com muito amor.
Quando Jesus foi até Zaqueu, não foi para se unir a ele e participar da cobrança dos impostos da maneira indevida que vinha sendo feita. Jesus foi até ele, para que ele encontrasse o Pai através de Jesus. Desta forma, pode receber o amor Dele e assim teve o seu coração tocado e transformado.
Zaqueu causava sofrimento à muitas pessoas; e ao alcançá-lo, Jesus pode impactar a vida de todas as vítimas dele, e ainda, restituir tudo o que havia sido tomado injustamente.
A visão de Deus é muito mais abrangente do que a nossa visão humana e limitada. Jesus poderia ter tido o trabalho de ir até cada pessoa que havia sido explorada por Zaqueu, e dado alguma palavra de encorajamento. Todavia, Ele foi muito mais eficaz, foi até o causador de problemas e resolveu o mal pela raiz.
Com isso, mostrou que até o homem mais egoísta e desumano, ao ser tocado pelo amor de Deus, pode ser transformado e se tornar um abençoador. Vamos enfatizar este ponto: humanamente uma pessoa não poderia convencer Zaqueu a mudar de atitude, no entanto, como Jesus era um canal pela qual Deus tinha liberdade de operar, Zaqueu foi tocado profundamente. E é isso que Deus deseja operar por meio de nós.
A mesma coisa Jesus fez quando foi até o gadareno. O gadareno atormentava a vida de muitas pessoas devido à influência de espíritos malignos. Portanto, quando se encontrou com Jesus, ele foi liberto. E um homem que atrapalhava, passou a abençoar a vida de muitos por meio do seu testemunho. A Bíblia conta que o gadareno se tornou um missionário e viajou para diversos lugares para pregar o evangelho. Humanamente Jesus não poderia libertar este homem.
No dia em que Jesus se encontrou com a samaritana no poço, Ele não encorajou-a a procurar um novo marido que a amasse e valorizasse como ela esperava. Jesus mostrou para ela, que aquilo que ela estava procurando em homens, ela jamais iria encontrar; pois ela esperava que homens fossem capazes de satisfazer a sede espiritual que ela possuía, e que seria saciada somente no Pai.
Cada pessoa que se encontrava com Jesus, se deparava com o amor, e ao mesmo tempo, era confrontada no seu estilo de vida e nas suas práticas. Muitos escolheram receber o amor de Deus e se submeter à uma vida que honrasse e agradasse o Pai. No entanto, outros escolheram continuar a seguir o seu próprio caminho e manter o controle sobre o próprio destino.
O moço rico foi um que optou em viver segundo os seus próprios conceitos. Ele tinha o seu coração nas riquezas e escolheu desfrutar do que era passageiro, em vez de se render ao que é eterno.
Não vemos Jesus correndo atrás do moço rico, ou fazendo propostas e tentando convencê-lo a mudar de ideia; tampouco o vemos oferecendo benefícios que o persuadissem a segui-lo. Jesus simplesmente apresentou o que ele precisava fazer e esperava que ele resolvesse segui-lo por espontânea vontade, não por obrigação ou com expectativas. Contudo, o moço escolheu o seu próprio caminho.
Existem casos, como o da ovelha perdida, em que a pessoa se perde porque não enxerga para aonde está conduzindo a sua vida. O fato de ela se perder, demonstra que foi um acidente e que ela era nova, talvez pouco experiente; tanto que o pastor precisou deixar todas as outras para ajudá-la a voltar. O que não é o mesmo caso do filho pródigo, pois ele optou por livre e espontânea vontade seguir o próprio caminho; ele decidiu que não queria viver com o pai, ele desejava uma vida de satisfação pessoal e carnal.
De acordo com a Palavra, nestes casos, não adianta o pai correr atrás do filho, pois ele escolheu essa vida e não será convencido por meio de palavras a voltar. Somente as circunstâncias, e as consequências das suas escolhas, irão levá-lo à reflexão e compreensão do caminho de destruição que optou seguir.
Alguns destes filhos, deixam o amor de Deus invadi-los por meio das pessoas que Deus coloca nos seus caminhos, ou permitem que o Espírito Santo os convença a se posicionar antes de chegarem na lama com os porcos; porém, outros, infelizmente precisam chegar na lama para se desapegarem de tudo aquilo que antes tinha valor e proporcionava prazer, para então, tirarem satanás do controle e deixarem Deus assumir o controle. Outros ainda, nem nesta condição se rendem e optam pela morte eterna.
O desejo do pai do filho pródigo, representando Deus, era que o filho desfrutasse em casa, de tudo o que o pai havia conquistado para ele e para a sua família, bem como para as pessoas que trabalhavam com eles. Todavia, na mente do filho, aquela não era a melhor opção de vida que existia, e ele resolveu experimentar algo diferente e novo.
Nada do que ele sofreu e experimentou, foi porque o pai desejou ou fez com que acontecesse. E o maior engano que um filho pródigo carrega, é a ideia de que o seu sofrimento está relacionado com algo que Deus tenha feito com ele. Tudo o que ele enfrenta, a partir do momento que sai de casa ou sai debaixo da autoridade do seu pai, é unicamente consequência das suas escolhas.
Geralmente, existe alguém orando e esperando por esse filho. E em todo este tempo, pela misericórdia de Deus; o Espírito Santo fala por meio da consciência e procura convencer o filho a voltar para casa, para dentro da cerca de proteção. Contudo, o Pai espera que o filho tome a decisão de voltar, pois Ele quer o coração convertido e não apenas a sua presença física. Quando os seus olhos são abertos e ele recebe entendimento, dificilmente desejará voltar à antiga vida.
Deus nos concedeu o livre-arbítrio, e espera que escolhamos segui-lo e amá-lo de todo o nosso coração. Portanto, nem Ele, nem o diabo, nem ninguém, tem poder sobre a nossa vontade e o nosso poder de decisão. E será pela nossa vontade que seremos julgados.
Existe também o fato que ocorreu com Pedro após ele ter negado Jesus três vezes. Pedro foi um homem que esteve ao lado de Jesus durante todo o tempo antes da cruz. Ele havia deixado a sua vida, desejando obedecer a Deus e fazer a sua vontade, no entanto, quando ficou com medo diante das adversidades, acabou negando Jesus. Só que Jesus conhecia o seu coração e a sua limitação, e desta forma, mesmo que Pedro pensasse que não seria mais útil ou desejado para o serviço no reino, nada daquilo que havia acontecido foi lembrado. Jesus queria saber apenas se Pedro o amava e isso era suficiente.
Por mais que tenha sido negativa a atitude de Pedro, ela foi uma bênção na sua vida. Ela serviu para trabalhar a prepotência que fazia parte da vida de Pedro, tornando-o mais humilde; especialmente em relação às pessoas ao seu redor. Ele se deu conta de que também era humano e não era melhor do que os outros.
Não existe um padrão de como devemos lidar com todas as pessoas. Cada pessoa vive inserida em uma situação específica, e somente através do Espírito Santo, recebemos capacitação e sabedoria para sabermos como proceder. Deus trabalha com cada um de acordo com o seu propósito.
Nosso modelo é Jesus. Ele nunca compactuava ou encorajava a prática do pecado. Podemos observar que ele agia de maneira diferente de acordo com a maturidade e experiência espiritual de cada pessoa. Ele não requeria de um novo convertido ou alguém que não o conhecia, o mesmo que esperava de um fariseu, de um líder ou de homens que já eram cristãos, como o moço rico.
Após demonstrar amor, misericórdia e compaixão, ele costumava orientar a pessoa a não voltar mais a cometer o pecado que a escravizava, para que a comunhão com o Pai não fosse rompida. O que o Pai mais deseja, é ter comunhão com os seus filhos, e Ele fará todo o possível para que ela seja mantida de maneira constante.


Empatia apenas para mim

Vivemos em mundo, cheio de pessoas que foram rejeitadas, que sofreram abuso emocional, físico, sexual, ou  talvez, tenham sofrido todos ao mesmo tempo. Muitas sofreram discriminação ou trabalharam como escravas, algumas passaram fome, outras enfrentaram doenças graves, algumas perderam tudo como resultado de desastres naturais, outras perderam um ente querido, dentre inúmeras dificuldades que poderíamos citar. Seria difícil encontrarmos alguém que não sofreu em algum aspecto durante a vida, até mesmo porquê, sofrer faz parte da vida humana.

O que precisamos entender, é que cada pessoa processa as suas experiências negativas de uma maneira diferente. Desta forma, aquilo que pode parecer besteira para nós, pode ser trágico para outra pessoa, como por exemplo, uma simples crítica ou um comentário sedutor.

O problema está em pensarmos que o nosso problema é sempre mais dolorido, ou pior do que o do próximo, e como consequência, não demonstrarmos a empatia e a sensibilidade que ele precisa, bem como sofrermos de síndrome de vítima do mundo, na qual todos estão contra todos, enquanto tudo ocorre apenas na nossa mente.

Cada caso é um caso. Para uma pessoa que sofreu abuso sexual, o sexo pode ser a pior coisa que ela pode pensar em fazer, enquanto que para muitos, pode ser o momento mais prazeroso da vida. Para quem ama estudar e trabalhar, ficar sem poder realizar tais atividades, pode ser o pior tipo de privação, embora que para alguns, são apenas obrigações necessárias. Cada pessoa possui características e interesses distintos, pensa e age de formas diferentes; e pode reagir de maneira inesperada diante de qualquer situação.

É muito comum esperarmos que as pessoas se coloquem no nosso lugar, e entendam profundamente como nos sentimos diante de tudo. Realmente seria bom se cada pessoa tivesse alguém que a compreendesse e demonstrasse isso. Todavia, mesmo sendo natural da nossa parte ter tais expectativas, não podemos depender disso; nós precisamos ter a iniciativa de sermos alguém que busca compreender e valorizar as pessoas, independente de alguém fazer isso por nós.

Muitas vezes, desejamos amar todo o mundo, e acabamos não amando nem a casa do lado, por não sabermos como começar. Portanto, é preciso aprender o valor de cada pessoa, e investir tempo para fazer isso, com uma de cada vez. Não se trata de ficar falando que ama ou dando “palestras”, e sim, de demonstrar amor na prática, começando com coisas simples, que vão conquistando a pessoa; como fazer comentários positivos, fazer perguntas que demonstram interesse, se dispor a ouvir com atenção, preparar um doce e levar, se oferecer para servir ou auxiliar de alguma maneira, etc. Ao fazer isso, além da pessoa se sentir amada, ela pode ser estimulada a fazer o mesmo por outra, e assim poderá ocorrer sucessivamente.

Ao expressarmos e sermos canal do amor de Deus, nós é quem somos mais abençoados e nos sentimos mais saciados, pois antes de chegar no próximo, tudo passa por nós. De qualquer forma, é inevitável não recebermos da parte de Deus aquilo que precisamos, pois tudo o que semeamos, iremos colher, é um princípio.

A maior parte daquilo que somos em nosso interior, bem como a visão que temos, é resultado dos nossos primeiros anos de vida; pouco tem a ver com a nossa atual situação. Este fato explica, porque muitas pessoas têm "tudo", para serem e viverem felizes, e no entanto, sofrem com depressão ou se sentem frustradas. Isso mostra também, que aquilo que nós valorizamos ou almejamos, talvez não seja aquilo que o próximo mais precisa.

Esse é um fato comum na vida de pessoas que têm bastante dinheiro. Quando estão sofrendo, a coisa que mais ouvem para consolá-las é: olha só, você tem tudo, não existem motivos para estar triste; enquanto que na verdade, o dinheiro não proporciona nada se os relacionamentos não estão bem. Ouvir isso pode até gerar certa revolta interior, pois muitos pensam que dinheiro é tudo, enquanto que quem tem dinheiro, sabe que isso não é uma verdade. A maioria das pessoas que cometem suicídio, possuem muito dinheiro, pois experimentaram de tudo, e ainda assim não se sentiram completas, logo, perderam toda a esperança.

É também por este motivo, que podemos ver uma família, que parece viver muito bem; os pais podem ter muito sucesso ou até serem experientes na área de famílias, e mesmo assim, um ou todos os filhos, podem estar sofrendo com graves problemas emocionais ou em outros aspectos. O fato do pai possuir muito conhecimento e ensinar outras pessoas, não significa que o filho consiga absorver tudo o que o pai ensina, e mesmo que os pais demonstrem amor e cuidem do filho, o cenário interior do filho pode fazer com que ele não se sinta amado, em virtude do seu passado.

Apenas nós mesmos, sabemos como nos sentimos, aquilo que determinadas palavras e atitudes nos transmitem, bem como, aquilo que as circunstâncias geram ou nos trazem à memória. E é por este motivo, que não podemos julgar ou agir com preconceito, pois da mesma forma que as pessoas não sabem o que cada coisa significa para nós, nós também não sabemos o que pode significar para elas.

Mesmo que determinado povo ou cultura, tenha fama ou reputação, de possuir alguma característica, seja positiva ou negativa, não podemos generalizar ou enquadrar as pessoas; pois pessoas são, e sempre serão, diferentes, independente de onde estejam.

O que as más experiências devem gerar em nós, não é um senso crítico ou inflexível, e sim, maior empatia e sensibilidade, assim como esperamos que tenham por nós.

Uma coisa é certa, por consciência pessoal, quando aprendemos que algo que fizemos no passado, pode ter gerado algum trauma ou possa ter prejudicado alguém, nossa primeira ação deve ser consertar isso, e restituir, se possível. Em especial, dentro da família. Alguns aspectos, apenas Deus pode curar e restaurar, contudo, existe também a nossa parte e devemos fazê-la. Somente depois disso, é que esse ensino deve fazer parte do nosso discurso. Pois tudo o que aprendemos, serve para aplicarmos e depois compartilharmos, não há sentido em ficar compartilhando algo que nem para nós tem aplicabilidade. O que conhecemos também, não serve para julgarmos ou estabelecermos a "verdade".

Vamos dar ênfase na palavra compartilhar, pois é esse o objetivo de tudo o que falamos: expor uma experiência ou conceito, para que as pessoas possam se identificar e possam obter uma visão diferente, e assim tenham a possibilidade de aplicar e agir de maneira diferente do que agiam, e que lhes causava sofrimento.

Quando compartilhamos algo, por mais que possa ser confrontador, é a maneira pela qual transmitimos o assunto, que irá gerar resistência ou garantir o efeito esperado. Portanto, saber se expressar é fundamental. Existem diversas maneiras de expressar algo ou transmitir uma mensagem, e é isso o que mais impacta. Até mesmo um elogio pode representar algo ruim, se a forma em que for proferido transmitir sarcasmo ou superioridade.

Tudo o que aprendemos deve servir como uma régua para nos avaliarmos, bem como aplicarmos as mudanças que somos capazes de realizar. Já em relação ao próximo, independente de quem seja, tudo isso deve servir para compreendermos que ele também é humano. Desta forma, não interessa o que ele sabe, o que ele possui ou faz; ele pode estar muito errado, todavia, isso é responsabilidade dele. A nossa responsabilidade é cuidar do nosso coração e das nossas ações. Nosso papel é exortar somente se formos designados para isso, nos demais casos, temos de cuidar de nós mesmos, deixarmos o próximo nas mãos de Deus e apenas orarmos por ele.



Deixe que o conheçam

Há alguns anos, ouvi uma história muito rápida e ela ficou gravada na minha mente. Era a história de um casal, na qual um dos cônjuges costumava comer a casquinha (o casco, o final) do pão de fôrma. Algum tempo se passou, e houve uma briga entre esse casal. Na hora da briga, o assunto da casquinha do pão veio à tona e descobriram que aquele que comia a casquinha, fazia isso como um sacrifício, enquanto que o outro, gostava da casquinha e estava abrindo mão daquilo que gostava para que o cônjuge pudesse desfrutar.
Com características semelhantes, meu pai conta uma outra história. Certo dia, ele participou do aniversário de casamento de 40 anos de um casal. No dia, o noivo deu uma frigideira de presente para a esposa. Durante o evento, meu pai foi perguntar para a noiva como haviam sido os quarenta anos de casados, e ela muito decepcionada, reclamou que o homem só dava de presente utensílios para a casa ao invés de dar presentes que fossem para o uso pessoal dela. A vontade dela era bater com a frigideira na cabeça dele. Neste momento, meu pai perguntou a ela se alguma vez ela havia dito que não gostava de ganhar itens domésticos de presente, e ela respondeu que ele deveria saber. Portanto, meu pai disse a ela que se ela ganhava apenas essas coisas, a culpa era dela, pois tudo poderia ter sido diferente se ela simplesmente falasse ao esposo o que gostaria de ganhar. Ele dava àquelas coisas porque pensava que era aquilo que ela gostava.
As duas histórias são muito simples, no entanto, apresentam uma infeliz realidade, a falta de comunicação e diálogo, bem como a falha em expressar nossas expectativas e sentimentos diante das coisas.
Expressar as nossas expectativas não significa que devemos ficar falando o tempo todo o que queremos, como se as pessoas tivessem que viver à nossa disposição; significa simplesmente que precisamos nos abrir e falar aquilo que gostamos, o que não gostamos, aquilo que nos deixa felizes, tristes, inspirados, depressivos, confiantes, inseguros, dentre centenas de outros sentimentos que possam surgir.
Como alguém pode nos agradar se não sabe como fazer isso? Esse hábito deve estar presente principalmente dentro da família, contudo, aonde quer que estejamos, deixar que as pessoas saibam o que nos agrada ou não, pode ser muito favorável para uma relação mais saudável e agradável.
Eu por exemplo, sou uma pessoa simpática e bastante acessível para conversarem comigo, porém, apesar de sorrir constantemente, não sou muito fã de piadas e brincadeiras, muito menos brincadeiras sarcásticas que constrangem as pessoas. Costumo me colocar à disposição para ouvir o que as pessoas gostariam de compartilhar. Deixo que se abram, mas não fico fazendo perguntas pessoais que possam fazer com que sintam invadidas. Faço muitas perguntas, todavia, perguntas gerais que demonstrem que as pessoas têm valor e que deem liberdade para que possam conversar sobre o que desejarem.
Não tenho problemas em contar histórias que vivenciei no passado, só que quando estou vivendo algo, prefiro me abrir somente com pessoas que possam me ajudar, ao invés de ficar me expondo e transferindo peso para as pessoas ao meu redor. Não é nem uma questão de confiança, penso que seja bom senso. Ficar se expondo não resolve os problemas, e o objetivo ao falarmos com alguém, deve ser para termos alguma direção que não conseguimos enxergar, ou auxílio para encontrar alguma solução.
Ao mesmo tempo que não abro minhas emoções, costumo compartilhar aquilo que penso e gosto, permito que as pessoas me conheçam, e percebo o quanto isso cria afinidade. Estimulo as pessoas ao meu redor para que façam o mesmo.
A parte legal disso, é que quando conhecemos aquilo que as pessoas gostam e vamos viajar, por exemplo, ao vermos determinadas coisas, vinculamos às pessoas que gostam de tais coisas e nos lembramos delas. Já comprei muitos presentes que me fizeram lembrar de pessoas que vivem ao meu redor, coisas simples, mas que demonstraram que eu as amo e lembrei delas.
Em uma festa que fizemos, honrei meu avô materno e agradeci ele por todas as vezes que fez churrasco quando o visitamos, afirmando que churrasco é o que eu mais gosto de comer. Após este dia, fomos visitar várias famílias que estavam na festa, e a maioria delas, fez churrasco para nos oferecer, e na hora de comer disseram que haviam pensando em algumas opções, mas como a Aline gostava de churrasco, optaram em fazer churrasco. Acho incrível como as pessoas gravam, mesmo depois de muito tempo.
Tenho amigas próximas que não perdem a oportunidade de demonstrar que me amam. Quando vão em algum evento, por exemplo, se ganham docinhos para levar para casa, trazem alguns para mim. Nos dias que fazem receitas novas ou receitas que sabem que eu gosto, trazem um pedaço. Nas viagens que fazem, costumam trazer lembranças de coisas que tem a ver com o que eu gosto.
Gosto muito de caixas, de itens com estampa de onça, zebra e romero britto, e não apenas minhas amigas, mas muitas pessoas ao meu redor, já compraram presentes sem motivo, simplesmente porque viram algo, lembraram de mim e acharam a minha cara.
Existem dois lados nesta situação: o nosso e o do próximo. Nós precisamos expressar o que gostamos e ao mesmo tempo, precisamos ter disposição e demonstrar interesse em saber aquilo que as pessoas ao nosso redor gostam.
Imagine que um homem compre um perfume importado muito caro para a esposa, só que esse perfume é doce e ela não suporta perfumes doces, o que irá acontecer? Ou a esposa usará para não desfazer o marido, e ficará agoniada durante muito tempo; ou ela irá falar a verdade e machucar o marido, fazendo uma desfeita. Agora, imagine que a mulher sonhe em ter um perfume que ela nunca teve condições de comprar, e o marido chega exatamente com esse perfume, como resultado do que soube por meio das conversas frequentes que eles tiveram e do interesse que ele tem em realizar os desejos dela, qual será o efeito do presente? O máximo.
É um detalhe muito pequeno, no entanto, mostra como conhecer o outro é essencial, assim como demonstra que uma mesma situação pode ter resultados tão diferentes.
Ter essa disposição é importante dentro de uma empresa, numa classe de acadêmicos, em um ministério, contudo, principalmente dentro da família. A família é o núcleo da vida de uma pessoa, e tudo o que ocorre dentro dela, por mais simples que seja, irá refletir em todos os demais contextos.


Contra o que devemos nos manifestar?

Uma das coisas mais importantes que precisamos ter em mente, quando resolvemos defender uma causa injusta, é que o nosso posicionamento deve ocorrer contra situações e padrões de comportamento destrutivos, não contra pessoas. A partir do momento que atacamos pessoas, nossa atitude se torna negativa e pode gerar consequências devastadoras.
Martin Luther King Jr. batalhou sem violência contra o racismo, ao passo que Hitler, lutou desumanamente contra os judeus e outros grupos que considerava malvistos. Ambos tinham a intenção de defender os seus ideais e proporcionar um mundo melhor, no entanto, um se levantou contra um comportamento preconceituoso e injusto, enquanto que o outro, chegou a matar pessoas.
King foi assassinado por lutar pela igualdade e pelos direitos dos negros. Ele não conseguiu eliminar os segregacionistas, tampouco era a sua intenção, todavia, a sua participação foi essencial na mudança que ocorreu nas leis dos Estados Unidos, trazendo a consciência da necessidade de se ter leis mais justas e igualitárias.
Tentaram assassinar Hitler diversas vezes e não conseguiram. No entanto, após ser responsável pela morte de aproximadamente 11 milhões de pessoas, ele perdeu a guerra e cometeu o suicídio. A parte mais cruel de tudo isso era que ele pensava que tinha o favor divino ao seu lado, visto que ninguém conseguiu matá-lo.
Algumas pessoas pensam que podem e têm como missão mudar as outras, sendo que em muitos casos, não é possível mudarmos nem a nós mesmos. Cada um de nós pode compartilhar e ensinar aquilo que tem experimentado na própria vida, contudo, a melhor maneira de implantarmos uma ideia ou estilo de vida, é apresentando ele na prática. Especialmente ao servir, amar e respeitar as pessoas, em vez de criticá-las ou tentar forçá-las a pensar como nós.
Ao mesmo tempo que uma manifestação pode ser uma boa opção em alguns casos, em outros, pode não garantir uma verdadeira solução. Uma manifestação pode ser feita de maneira pacífica contra aquilo que consideramos prejudicar às relações humanas. Entretanto, na maior parte dos casos que surgem no dia a dia, a manifestação mais eficaz é vivermos e agirmos, sendo nós mesmos um exemplo do que pensamos ser correto.
Um dos homens que conseguiu alcançar seus objetivos de maneira prudente, foi Nelson Mandela, que após ficar 27 anos na prisão, se tornou o presidente da África do Sul. Ele agiu com total compaixão e sabedoria ao assumir um país cheio de conflitos entre brancos e negros.
Embora tenha sofrido muito com a aprovação do regime legal segregacionista, chamado de apartheid, Mandela optou em deixar o passado para trás e buscar a reconciliação. Ele elaborou uma estratégia para reconciliar os brancos e negros, e por meio do Rugby e outras ações, conseguiu aplicá-la.
A sua missão mais difícil foi conscientizar os negros de que o propósito deles não era acabar com o brancos, e sim com o racismo. Como resultado do sofrimento que os negros tiveram nas mãos dos brancos, eles tinham raiva e carregavam uma revolta mortal.
No início, os negros resistiram à intenção do presidente, todavia, com o tempo, ele conquistou o respeito dos brancos, bem como persuadiu os negros a enxergarem uma solução que unisse o povo; trocando o ódio e o desejo de vingança, por um futuro com esperança.
A decisão dele de lutar por uma causa e não contra pessoas, transformou a situação do seu país. Por mais que muitos críticos pensem que ele se preocupou demais com a reconciliação, em vez de trabalhar no desenvolvimento e nas reformas que o povo precisava, ele tinha consciência de que essa era a sua missão. As reformas e o desenvolvimento eram e são essenciais, contudo, mais importante do que isso, era existir paz e harmonia na nação, pois um país dividido não cresce.
Mandela fez a sua parte, e os seus sucessores continuarão o processo, construindo uma nova nação em cima da igualdade e da reconciliação que foram conquistadas. Desta forma, se tornou possível estabelecer um governo e um povo mais forte, tendo as pessoas mais unidas e voltadas em direção a um mesmo propósito – o crescimento e o desenvolvimento.
De modo semelhante pode ocorrer dentro de uma família, se cada pessoa enfatiza os defeitos e aquilo que não gosta na outra, em vez de aprender a respeitar e valorizar as coisas boas; todas vivem amarguradas e se ofendendo. Tudo isso enquanto poderiam se amar, se divertir, ocupar o tempo com atividades saudáveis e investir no desenvolvimento. Qual a sua escolha?
“Não usemos bombas nem armas para conquistar o mundo. Usemos o amor e a compaixão. A Paz começa com um sorriso. Sorria pelo menos cinco vezes por dia para as pessoas a quem você normalmente não daria um sorriso. Faça isso pela paz. Irradiemos a paz de Deus e tornemo-nos o reflexo de Sua luz para extinguir no mundo e no coração dos homens toda espécie de ódio e o amor pelo poder. Sorria junto com os outros, embora isso nem sempre seja fácil.Madre Teresa de Calcutá

Áreas de identificação

Grande parte das pessoas, possui certa dificuldade em conversar com outras, quando não existe algum tipo de identificação. Algumas se identificam por meio da música, outras por meio dos esportes, hobbies e diversas outras áreas de interesse em geral. Esse fato pode se fazer presente em qualquer lugar, com qualquer tipo de pessoa. 
Certo dia, uma menina próxima, me ligou para pedir algumas dicas, pois faria a sua festa de aniversário de doze anos e tinha um problema para resolver. O "problema" era que ela convidaria amigas da escola, da igreja e do condomínio, e ela não queria que houvesse panelinhas separando as meninas, contudo, ela não sabia como proceder, pois as convidadas tinham idades diferentes umas das outras, bem como mentalidades distintas.
No dia que ela me ligou, ela havia acabado de chegar da pizzaria, aonde estava com as amigas da escola, comemorando o aniversário de uma delas. Ela estava muito frustrada, pois todas as amigas permaneceram todo o tempo no celular, conversando no whatsapp e olhando redes sociais, ao invés de conversarem entre si.
Diante disso, no convite da festa, ela  colocou um bilhete informando que não seria permitido o uso de celulares, e quem levasse, deveria deixar em uma caixa que seria colocada especialmente para isso.
No momento que ela me ligou, eu disse que o ideal seria fazer alguma dinâmica de integração, todavia, precisaria pensar em algo que fosse simples e prático, bem como adequado para qualquer idade. 
Pensando a respeito, lembrei de dezenas de dinâmicas que conhecia, e por fim, acabei percebendo que a mais interessante para a ocasião seria uma bem básica: formar equipes pequenas, dar uma lista de perguntas gerais que não poderiam ter as respostas escritas, e no final, fazer uma roda para que cada pessoa apresentasse alguém da sua equipe.
No dia da festa, conforme as convidadas foram chegando, ocorreu exatamente o que a menina havia previsto, se formaram três grupos e ninguém se misturava, parecia até que existia algum tipo de rivalidade entre algumas.
Assim que todos chegaram, cantamos parabéns e comemos. Logo em seguida, chamei todas as meninas para a sala de jogos e expliquei que faríamos uma dinâmica. Separei os grupos e dei um tempo para cada uma prestar a atenção e memorizar as respostas de uma das colegas do grupo. De mais de vinte meninas, apenas duas não participaram e ficaram na mesa conversando.
Foi muito interessante, pois no momento de fazer a roda para compartilhar, todas estavam ansiosas para fazer as apresentações, e em poucos minutos, todas puderam se identificar. Percebi que elas também se impressionaram ao perceber, que por mais diferente que alguém possa ser, é possível que existam coisas em comum. Quase todas as meninas tinham irmãos, todas tinham uma cor e um animal favoritos; e o sonho da maioria delas, era o mesmo, ir à Disney.
Eu já havia feito e participado de diversas dinâmicas de integração, mas neste dia, estando com a mente focada em novos assuntos e prioridades, pude me dar conta de que a maior identificação que temos uns com os outros, é que somos humanos. Todos comemos, temos uma família, amigos, preferências, sonhos, e também defeitos; e mesmo que sejam diferentes das características de outras pessoas, nos identificamos simplesmente pelo fato de cada um ter necessidades e buscar satisfazê-las de acordo com a sua individualidade.
Desta forma, compreendemos que uma das atitudes mais importantes que precisamos ter, é de não apenas respeitarmos, mas valorizarmos o fato de sermos diferentes.
Tenho duas melhores amigas, e elas são irmãs. Uma delas é completamente diferente de mim, em todos os sentidos possíveis. Temos em comum a paixão em dar e ganhar presentes, mas apesar disso, acredito que o principal motivo de nos darmos tão bem é o fato de sermos muito diferentes. Eu sou do tipo que fala e escreve tudo certo, ela é do tipo que precisa perguntar para ter certeza; eu amo assistir filmes, ao passo que ela dorme até no cinema. Nosso estilo ao se vestir é extremamente diferente, contudo, gostamos das coisas da outra sendo  usadas pela outra, dentre dezenas de outras diferenças. É como se fôssemos peças de um quebra-cabeça, elas se encaixam e nos dão sentido, trazem alegria e nos enchem de "cor".
As melhores amizades que tive, foram com pessoas que tinham personalidades e temperamentos diferentes dos meus. Apresar de gostar de me relacionar com pessoas que tenham os mesmos interesses, não costumo me limitar a isso.
Embora seja muito bacana nos relacionarmos com pessoas que se identificam conosco, é essencial termos iniciativa para nos comunicar com todo o tipo de pessoa, independente de sermos compreendidos ou não.


Afinal, falar ou se calar?

Não sei dizer o que considero mais desagradável: alguém que não sabe ouvir e fala sem parar, ou alguém indiferente que não fala nada, e que pouco se esforça para se comunicar.
Sempre gostei de falar e também de ouvir. Costumava ter alguns hábitos negativos ao ouvir, como interromper ou ficar pensando no que eu iria falar depois. No entanto, estes são hábitos que temos e nem percebemos, até que alguém nos ensine e nos faça perceber como atrapalham os outros.
Eu costumava interromper com perguntas e afirmações, para que a pessoa tivesse certeza que eu estava prestando a atenção, bem como, estava interessada em ouvir, visto que, eu percebia como era comum as pessoas não prestarem a atenção enquanto outras falavam.
Fiz isso, até que um certo dia, uma amiga ficou nervosa com as minhas interrupções, e disse que era para eu fazer perguntas somente quando ela terminasse, pois isso atrapalhava o raciocínio dela. Acabei ficando feliz com a solicitação, pois me dei conta de que aquilo que eu não gostava de fazer, e fazia com uma boa intenção, era desnecessário e péssimo. Era possível que eu já tivesse irritado muita gente com isso, mas graças a Deus, alguém me alertou.
Identifiquei também, que muitas vezes, eu não estava disposta a compreender o que as outras pessoas pensavam, minha intenção era simplesmente expor a minha opinião e visão, com o intuito de influenciar as pessoas a pensarem como eu, pois em algumas ocasiões, eu pensava que estava certa e que as demais pessoas não tinham tanta experiência quanto eu.
Em alguns momentos específicos da minha vida, costumava sentir a necessidade de compartilhar muitas coisas que estava aprendendo, principalmente em casa. A cada nova descoberta e aprendizado, tinha o hábito de permanecer longos períodos compartilhando e explicando.
Não sei dizer tudo o que me impulsionava a falar tanto nestes dias, só sei que depois, mesmo que fosse algo positivo e que poderia beneficiar de alguma maneira, eu me sentia mal por ter falado demais. E uma das reclamações gerais dos homens em relação às mulheres, é que falam demais. Assim sendo, costumava ter aversão só de pensar em ser uma tagarela no futuro, apesar de ter sido muitas vezes.
Portanto, resolvi que iria aprender a não falar nada e permaneceria calada, o que foi impossível. Fui pedindo a Deus que me ajudasse a ser mais equilibrada e me ensinasse como deveria proceder.
Diante disto, aprendi que meu objetivo não era ficar calada, e obviamente também não era dominar as conversas. Eu deveria ter sensibilidade para saber a hora certa de falar e a hora de ouvir, e principalmente, saber o que falar, quando, de que forma, e para quem poderia falar. Ter bom senso e empatia seriam essenciais.
Aprendi também, que saber ouvir, e fazer a pessoa que está falando, sentir que possui valor, é uma arte. Demonstrar que aquilo que as pessoas pensam, falam e sentem, é importante, mesmo quando é irrelevante para nós, é uma das maiores expressões de amor que podemos oferecer. Todos esperam ser compreendidos.
Às vezes, desejamos resolver o problema das pessoas, todavia, o simples fato de demonstrarmos que entendemos como alguém se sente, pode bastar e ajudar a pessoa a sentir melhor. Mesmo porque, a maior parte dos problemas que enfrentamos, não existe no mundo real, são apenas criados na nossa mente e nos acostumamos a viver com eles como parte da nossa vida.
Desta forma, não podemos criar padrões de comunicação; precisamos criar e obter disposição, para tratar cada situação como um caso singular.
Certo dia, uma mãe e uma filha vieram em nossa casa. Quando chegaram, elas se sentaram no sofá e a menina não falava nada, apenas acenava com a cabeça, mesmo eu já tendo estado na casa dela e conversado com ela. Na minha casa, eu fiz perguntas e não obtive respostas por meio da comunicação verbal. Portanto, peguei algumas bonecas polly e chamei ela para brincar comigo. Assim que começamos a brincar, ela já se soltou e passou a conversar à vontade. Neste caso, a brincadeira foi a linguagem pela qual me identifiquei com a menina e ela se sentiu em casa.
Este é um detalhe muito importante nas relações humanas – observar e saber como conquistar a atenção das pessoas para deixá-las à vontade. É criar um ambiente propício para a troca de experiências e aprendizado mútuo. É saber fazer perguntas adequadas e relevantes, tais que façam com que a pessoa se sinta aceita e valorizada, sem que se sinta invadida ou constrangida.
Pessoas são completamente diferentes em todos os sentidos possíveis, e saber valorizar essas diferenças, bem como compreender que cada uma vive em uma realidade diferente, torna a comunicação muito mais eficaz, pois não haverá a presença de preconceitos e julgamentos.
Quanto mais acessíveis e compreensivos somos ou parecemos ser, mais prazer as pessoas têm de se relacionar conosco, pois a atenção que cedemos, faz com que se sintam especiais em vez de se sentirem inadequadas ou incompetentes. Enfim, tanto ficar calado, quanto falar demais, são hábitos muito desagradáveis e deixam as pessoas desconfortáveis. O ideal é aprender o momento adequado para ouvir e para falar. Existe hora e ocasião para todas as coisas.


A responsabilidade de um líder

Temos vivido dias em que a ausência da figura dos pais, tem exercido influência drástica na vida das pessoas. Toda pessoa, desde à sua concepção, durante seu crescimento e desenvolvimento, sofre influências que vão formando a sua identidade e o seu caráter. Todavia, com a ausência dos principais responsáveis por esse desenvolvimento, que são os pais, as pessoas têm crescido sem modelos e referenciais, impactando principalmente de maneira negativa nas suas identidades. Visto que, não são os pais quem têm trabalhado com os filhos, esse papel tem sido exercido por agentes externos.
Neste ponto entram os líderes. Quem são os líderes? Líder é todo aquele que exerce influência sobre a vida de alguém, podendo mudar o destino e o alvo de uma pessoa. Para ser um líder, não é necessário que se tenha um cargo formal, basta que as pessoas levem em consideração o modelo, as sugestões e os conselhos que alguém lhes oferece.
A mídia pode ser considerada uma líder, assim como as informações que as pessoas obtêm na internet. A moda e o sistema econômico podem ser líderes. Professores, amigos, familiares, colegas de trabalho, patrões, pastores, vizinhos, dentre outros, também podem ser.
A liderança pode ser retratada de diversas maneiras relevantes, todavia, duas coisas que podem caracterizá-la de maneira que ressalte a consciência e o seu devido impacto, são “responsabilidade” e “dependência de Deus”. Ser um líder, seja através de um cargo formal em uma instituição, seja apenas através da influência informal, é uma grande responsabilidade.
Muitas pessoas, principalmente àquelas que não tiveram os seus pais presentes, levam muito em consideração aquilo que as pessoas pensam a seu respeito e aquilo que elas lhes orientam. Contudo, se as pessoas que exercem a liderança possuem ambições pessoais, desejam a popularidade, buscam aceitação ou constroem sua liderança em cima de motivações egoístas, os resultados podem ser drásticos.
Por que os resultados podem ser drásticos? Porque o indivíduo que exerce liderança com motivações egoístas, possui sua visão voltada para si mesmo e não para as pessoas; e desta forma, quando ele aconselha alguém, está mais preocupado com a imagem que a pessoa obterá dele, do que com a vida da pessoa, que pode estar em jogo. O egoísmo cega o líder e ele não consegue enxergar as consequências que a pessoa que solicitou sua ajuda poderá sofrer, por causa da influência que está recebendo. Esse líder poderá procurar ser legal e levar a pessoa a focar apenas na sua felicidade, tudo isso em detrimento das suas responsabilidades.
Um local muito comum de se ouvir conselhos desastrosos são salões de beleza. Se você passa algumas horas em um salão, ouve muitas mulheres compartilhando suas vidas pessoais no meio alheio, principalmente denegrindo a imagem dos seus parceiros. Quando alguém compartilha sua vida, acaba dando liberdade para que as pessoas opinem a respeito. E de maneira geral, o que se ouve é apenas: - “largue esse canalha, ele não te merece, encontre alguém que te faça feliz”. E esses conselhos são dados mesmo sem se conhecer ou considerar os dois lados da história.
Infelizmente muitas mulheres acatam estes conselhos e são elas quem sofrem as consequências da escolha, ao invés de encararem os problemas e resolvê-los. Imagine o impacto positivo de um salão de beleza aberto com o propósito de influenciar as mulheres de acordo com a Palavra de Deus ou com ideias prudentes e responsáveis.
Todo líder ou influenciador, formal ou informal, que conhece e serve a Deus, deve ter profunda consciência da sua responsabilidade. Mesmo que a escolha de ouvir um conselho e aplicá-lo seja tomada pela pessoa que o solicitou, o conselho poderá ser válido e poderá mudar o destino da vida de uma pessoa.
Conselhos não devem se tratar apenas de opiniões baseadas na experiência pessoal, e sim na Palavra de Deus, ou em alguns casos específicos, na direção do Espírito Santo. Um líder precisa ter consciência da sua dependência de Deus em tudo aquilo que fala e faz. As pessoas não precisam apenas do líder, mas do Pai, e os líderes são apenas facilitadores e canais. Quando um líder se coloca acima de Deus, passa a dar opinões irresponsáveis e que vão contra aquilo que Deus estabeleceu, tudo isso será requerido dele.
Um exemplo muito comum é de casamentos destruídos. A Palavra de Deus ensina que casamento é uma aliança e ensina também que para Deus nada é impossível. No entanto, muitos líderes, quando solicitados para auxiliar na restauração de um casamento, orientam às pessoas a se separarem e buscarem um novo parceiro ao invés de alinharem seus relacionamentos à Palavra de Deus. Muitos casais acatam esses conselhos, ignorando seus papéis em casa, ignorando os filhos, ignorando a vontade e o propósito de Deus; levando em consideração apenas as suas necessidades e desejos egoístas, que em geral, chamam de felicidade.
Vale ressaltar que quem vai ter que enfrentar um divórcio, problemas com o sofrimento dos filhos diante da situação, divisão de bens, conviver com culpa, frustração, insatisfação e entrar num novo relacionamento com expectativas fantasiosas, não será o líder, e sim a pessoa.
Se um casal possui problemas ou até enfrentou uma situação de traição em determinado momento, não é se separando e casando com um novo parceiro que os problemas desaparecerão. A tendência é que tudo piore, pois ambos irão levar seus problemas pessoais que já possuíam, somados às experiências de prováveis decepções do parceiro; podendo viver uma vida tão desgraçada ou simplesmente insatisfatória quanto antes.
Diante destes fatos, o líder deve se colocar no lugar da pessoa e aconselhá-la de acordo com a Palavra. Deus quer que seus filhos vivam uma vida abundante em todos os sentidos, entretanto, precisamos ter consciência de que quando uma pessoa resolve abandonar a família, o amor de Deus não está apenas a favor da felicidade dela, Ele se preocupa com toda a família envolvida. Qual a imagem a respeito de Deus que será gravada na vida dos filhos e futuras gerações que enfrentarem isso?
Nós não estamos na terra para buscarmos nossa felicidade e satisfação, tampouco podemos levar às pessoas por este caminho contrário à orientação divina. Viver a alegria e a satisfação são as consequências de uma vida centrada nos princípios de Deus e na obediência. São as consequências, e não o nosso alvo. Quando se tornam o nosso alvo, as consequências são de destruição ao invés de benção. Nosso alvo é sermos semelhantes a Cristo, e este é o único caminho e meio de viver que Deus nos deixou como modelo.


A influência do líder nas pequenas coisas

Como filha de líderes, e em determinados momentos, líder também; vivenciei algumas experiências peculiares que despertaram a minha atenção para pequenos detalhes, que jamais cogitaria que poderiam ocorrer.
No ministério em que meus pais são pastores, fui a jovem mais velha na maior parte do tempo. Desta forma, comecei a trabalhar fora mais cedo que as demais moças, e consequentemente, passei a ter o meu próprio salário; o que me permitia comprar mais roupas e acessórios do que quando dependia dos meus pais. Comprava mais não apenas em virtude de ter, e sim porque trabalhava fora e estudava a noite, o que era uma necessidade devido à frequência de uso e o meio em que estava.
Enfim, há alguns anos, logo após eu começar a ter mais itens pessoais, uma moça decidiu que não queria mais ir à igreja em razão de não ter roupas diferentes para usar. Ela afirmava aos pais que não tinha roupas para sair. No entanto, ela tinha roupas, o que ela não tinha, era uma certa variedade como gostaria; o que se fôssemos pensar friamente, não era necessário pois ela não trabalhava fora, e para estudar, utilizava uniforme.
Algum tempo após este incidente, eu estava na igreja, e passei na frente de uma sala para buscar água. Meus pais estavam ministrando essa mesma moça; e justamente na hora em que passei, ela estava chorando e falando que estava triste porque ela nunca consegueria ser como eu, e por isso, estava muito desanimada.
Ninguém havia dito para ela que ela deveria ser como eu, contudo, ela entendia que deveria ser. Ela chegava ao ponto de se sentir culpada pela personalidade que tinha, pois era diferente da minha. Meus pais explicaram para ela que o alvo dela não era ser como eu, ela deveria ser como Deus a havia criado.
 Meu pai sempre nos alertava de que nós, os filhos dele, seriam as pessoas que iriam criar os limites e determinar o que seria aceitável. Aquilo que fizéssemos, os outros também o fariam. Eu não gostava muito dessa “carga” nas minhas costas, todavia, mesmo que não gostasse, o fato não deixava de ser uma verdade.
Um pequeno exemplo, diante de vários que ocorreram, é que ninguém em nosso ministério costumava usar batom vermelho. Eu nem sequer usava batom, muito menos vermelho. Entretanto, fiz um curso de maquiagem e aprendi como passar batom corretamente. Logo em seguida, ganhei um batom vermelho de presente e resolvi ir com ele à igreja; e semana após semana, as mulheres começaram a aparecer de batom vermelho. Não apenas as solteiras, as casadas também.
Quando entrava nas salas da igreja, em que as crianças ficavam brincando sozinhas; encontrava o meu nome e o nome dos meus irmãos escritos nos quadros. Elas brincavam de escolinha, e cada criança fingia ser um de nós. Algumas crianças colocavam o nosso nome nos ursinhos que tinham em casa.
Tudo aquilo que elas costumavam ter de dúvida de ser certo ou errado; elas não vinham perguntar se era certo ou errado, elas perguntavam se a gente fazia aquilo ou não; e de acordo com a resposta, aquilo se tornava certo ou errado para elas. Quando era professora delas, quase tudo o que eu fazia ou deixava de fazer, eles me questionavam e queriam uma explicação. Até chegaram a pedir que eu me casasse com um homem que gostasse de crianças.
Havia uma menina, que tinha o costume de falar tudo o que ela achava e pensava, a respeito das atitudes e artigos pessoais, de quase todas as crianças. As crianças viviam tristes por causa disso. Certo dia, chamei ela, e expliquei que ela tinha todo o direito de não gostar ou não concordar com o que via, porém, quando aquilo que ela pensava, não fosse edificar ou encorajar as pessoas, ela não deveria falar, pois estaria ofendendo; e com o tempo, as crianças, e no futuro, as pessoas, não iriam desejar ficar perto dela. Perguntei a ela, se ela gostaria, que alguém afirmasse que a roupa ou o cabelo dela estavam estranhos ou horríveis, e ela conseguiu se dar conta de como as pessoas se sentiam.
A partir daquele dia, ela se tornou a menina mais encorajadora que já conheci. Ela deixou de focar naquilo que não gostava, e passou a encorajar e elogiar as pessoas diante daquilo que ela via e a agradava. E hoje, as pessoas ficam admiradas e elogiam a educação e a facilidade de se comunicar que ela tem, em todos os lugares.
Essa mesma menina, em razão do pai ter uma renda superior a dos demais homens; estava sempre indo em restaurantes, comprando sorvetes, fazendo passeios e ganhando presentes mais caros e atraentes do que as demais crianças. O problema era que ela fazia questão de ficar contando vantagens, e com isso, ia deixando as outras crianças frustradas com a limitação em que viviam.
Tenho o costume de trazer as crianças para passar o dia na minha casa, e na época, resolvi trazer essa menina e fomos passear. Senti que deveria explicar a ela, que as outras crianças não tinham as mesmas condições financeiras, e mostrar como se sentiam quando ela compartilhava suas conquistas. Disse que mesmo que ela não tivesse intenção, era isso que acontecia. Nesta hora, ela me interrompeu e disse, que sinceramente, ela fazia isso de propósito, não era inconsciente. Me contou também, que o pai já havia alertado ela sobre isso, contudo, não havia deixado claro como isso afetava as demais crianças.
Admirei muito a franqueza dela. Ela não ficou triste quando falei, pois deixei claro que aquilo era para o bem dela. Quando a corrigiam, ela não conseguia compreender, pois transmitiam de forma que a feria ao invés de ensiná-la.
Essa menina passou o dia comigo diversas vezes e também me ajudou em várias atividades. Ela é quase quinze anos mais nova. Achei engraçado, pois num certo dia em que fomos passear, ela disse que eu não precisava conversar sobre assuntos de criança, eu poderia falar com ela sobre os assuntos da minha idade e do meu interesse. Ela estava se esforçando para agir como uma moça e tentar ser uma boa companhia. Portanto, expliquei que ela não deveria se preocupar em parecer mais velha quando estivesse com algum adulto. Se o adulto tivesse interesse em dar atenção ou conversar com ela, era o adulto quem deveria se colocar numa posição em que ela pudesse compreender e participar. Ela não deveria se preocupar em estar adiantada.
Quando as crianças vêm na nossa casa, o maior desejo delas não é que façamos uma programação especial, elas querem participar das nossas atividades. Querem ver como é a nossa vida. Com a intenção de mostrar a elas que devem se adequar e desfrutar da idade que têm, sem se preocupar em estar à frente; uma das coisas que faço é levá-las para caminharem comigo no trajeto que faço diariamente. Desta forma, elas compreendem que ainda são crianças, pois não dão conta de terminar; e a maioria acaba precisando voltar nas minhas costas, pois não suporta caminhar tanto.
É incrível como as crianças levam a sério aquilo que ensinamos a elas, pois através da atenção e do amor, elas conseguem compreender que tudo o que falamos é para o bem e não para privá-las.  
Através dessas situações e de muitas outras, passei a ter muito cuidado com o meu estilo de vida e aquilo que transmito às pessoas. Eu poderia afirmar que não era problema meu o fato da moça não trabalhar fora e não ter condições de comprar roupas, como eu podia na época. Ou poderia pensar que a ideia de ela achar que deveria ser como eu, não tinha nada a ver comigo, era simplesmente resultado de falta de identidade dela. Todavia, um líder jamais pode pensar desta forma, seja ele um líder que possua um cargo, ou simplesmente, um influenciador informal. Esse tipo de pensamento demonstra indiferença e falta de amor.
Na época, parei para refletir no que eu fazia que poderia ter gerado isso, independente das condições emocionais ou possíveis problemas que poderiam estar presentes na vida dela. E acabei identificando depois, que o mesmo costume que a menininha tinha de contar “vantagens” ou histórias, eu tinha; e era isso que causava esses sentimentos na minha amiga.
No meu caso, não fazia isso com a intenção de inferiorizar os outros; na verdade, sempre fui uma pessoa muito reservada em relação às minhas emoções; e como queria ser agradável e me socializar com as pessoas, acabava conversando apenas sobre assuntos superficiais, como histórias de coisas boas que aconteciam, conquistas, e às vezes, passeios e novas aquisições.
E era por eu não deixar transparecer que tinha algum tipo de problema ou dificuldade, que a moça havia criado uma fantasia ou imagem de que eu tinha uma vida perfeita, cheia de alegria, dinheiro à vontade e momentos de prazer. Enquanto que na verdade, apesar de não ter grandes problemas reais ou que fossem motivo de preocupação ocorrendo, minhas emoções eram cheias de complicações que precisavam ser curadas e tratadas, da mesma forma que ela tinha.
Na hora em que ouvi ela chorando e falando que não conseguia ser como eu, fiquei chocada, e pensei em como seria se ela soubesse realmente como eu me sentia em relação à todas as coisas. Como eu gostaria de realmente ser aquela pessoa que ela pensava que eu era, mas aquilo era uma fantasia.
Desde que consegui compreender isso, não passei a me expor às pessoas; todavia, passei a compartilhar mais da minha humanidade e deixar claro que também enfrento dificuldades. Tomei consciência de não deixar parecer que minha vida é perfeita; pois como influenciadora, tudo o que eu tenho, faço e vivo, se torna um alvo para as pessoas alcançarem. Contudo, se eu estabelecer um alvo inatingível, mesmo sem eu saber, elas viverão frustradas por se sentirem muito longe. Com certeza devemos ser prudentes naquilo que compartilhamos, pois muitas pessoas não tem maturidade para ouvir certas coisas, portanto é preciso ter bom senso em cada situação.
Em dias que estava triste, frustrada, sem esperança, enfrentando provas que me ajudariam a ter minha mente transformada; olhei em redes sociais, a vida de algumas pessoas que eu admiro, observei a alegria e prazer que tinham na vida, como pareciam não ter problemas e se relacionar sem conflitos.
Certamente as pessoas não iriam discutir e colocar fotos que transmitiam algo negativo na internet, entretanto, ver como elas estavam tão bem enquanto eu estava mal, fez eu me sentir um lixo; como se eu não estivesse usufruindo do mesmo por não merecer, ao mesmo tempo que parecia que eu nunca mais iria viver como elas. Mesmo não tendo na época, motivos aparentes para reclamar ou estar frustrada, simplesmente me sentia assim. Eu nunca havia tido este tipo de sentimento em uma situação dessas, sempre pensei que ao ver pessoas felizes e desfrutando de momentos em família, produzisse esperança para aqueles que tem uma família dividida, mas percebi que não é bem isso que acontece.
Estando nesta situação, passei a refletir em como muitas pessoas devem se sentir ao ver essas fotos, bem como ao ver a nossa família. Não que esteja errado ser e parecer feliz, contudo, não deixar que as pessoas saibam que também sofremos, somos humanos, temos limites e discutimos diante de determinadas situações; permite que o inimigo as coloque em prisões mentais e emocionais, convencendo-as de que nunca alcançarão aquilo que Deus tem, pois a imagem que permitimos que elas tenham de nós, cria no interior delas uma fantasia de uma vida que nem nós temos, enquanto parecemos ter.
Os alvos que criamos podem estar relacionados aos mais variados aspectos possíveis, de acordo com o foco e área de interesse de cada pessoa. Desta forma, precisamos ser cuidadosos com aquilo que estabelecemos e apresentamos, pois as pessoas tentarão nos alcançar. Quando parecemos perfeitos, as pessoas também podem não se sentir à vontade para expressarem suas dificuldades, pois podem temer que venhamos a criar uma imagem negativa delas.
Uma vez, ocorreu um fato que me fez desejar desaparecer. Nos trabalhos sociais, cuidamos alguns anos de uma família com muitos filhos e eu era mentora da filha mais velha. Ela tinha nove anos e passava tempo comigo com certa frequência. Certo dia, ela apareceu na igreja com uma fronha enrolada ao redor do corpo como se fosse uma saia social e de cintura alta, com uma sandália com salto não muito alto e com os olhos maquiados. A mãe dela, que não era uma pessoa muito “saudável”, já tinha sete filhos e era um ano mais velha do que eu. Quando ela me viu, sorriu e disse que a filha queria ir à igreja vestida como a Aline. A menina estava feliz pois estava vestida como eu. Eu sabia que era uma fronha, pois já tinha arrumado as roupas de cama na casa deles. Ver uma menina com nove anos usando uma fronha como saia por minha causa, acabou comigo.
Somente o Espírito Santo e o amor de Deus em nós, podem nos transformar e nos ensinar a maneira que devemos agir, e que consequentemente, influenciaremos as pessoas positivamente, levando-as para perto do Pai ao invés de afastá-las ou desanimá-las com mentiras de alvos inalcançáveis.