O
segundo mandamento mais importante que fomos orientados a obedecer, é amar o
nosso próximo como a nós mesmos. Contudo, quando pensamos em amar alguém como a
nós mesmos, logo imaginamos aquilo que gostamos de receber e entendemos que
devemos fazer o mesmo para os outros. Se gosto de ser elogiada, passo a elogiar
às pessoas. Se gosto de receber presentes, procuro aproveitar as oportunidades
para dar presentes.
Só
que na verdade, amar o próximo como a nós mesmos vai um pouco além do que
expressões exteriores. Muitas vezes ignoramos àquelas que afetam mais os
relacionamentos, que são interiores. Existem coisas que as pessoas fazem a nós,
que não gostamos, mesmo que sejam feitas com uma boa intenção. Aquilo que para
uma pessoa pode ser algo extraordinário, para outra pode ser uma catástrofe.
Desta forma, o primeiro passo para se amar alguém é conhecer a pessoa e saber
como ela interpreta e recebe aquilo que fazemos.
Conhecer
alguém é uma missão que exige paciência, dedicação e disposição. É preciso,
mesmo que não seja do nosso interesse pessoal ou não agregará nada em nossa
vida, que paremos e façamos perguntas, emprestando os nossos ouvidos para a
pessoa compartilhar o que deseja.
Existem
alguns fatores que influenciam no comportamento e receptividade das pessoas. Um
dos mais comuns, são os hábitos de acordo com a cultura e outro, é a condição
emocional resultante de um passado de boas ou más lembranças. Esses fatores
culturais, mostram que algumas atitudes em um local, são recebidas de uma
maneira positiva, já em outro, podem ser consideradas uma grande falta de
respeito.
No
meu condomínio, por exemplo, tenho muitas vizinhas que vivem sozinhas e são
muito carentes. Procuro observar os detalhes nelas, como cortes de cabelo,
armações dos óculos, roupas novas, perfumes cheirosos, dentre outros, e faço
questão de elogiar ou comentar para expressar que elas tem valor e que alguém
presta a atenção nelas; mesmo que elas pensem que ninguém se importa. A alegria
que elas expressam ao ouvir isso, me inspira a não perder as oportunidades.
Certa
vez, encontrei no elevador uma senhora que havia sido abandonada há muitos anos
pelo esposo, e as filhas não queriam ficar com ela, portanto morava sozinha.
Ela havia trocado a armação de óculos e eu gostei muito. Então discretamente,
disse que aquela armação havia ficado muito bonita para ela. Quando ela ouviu
essas palavras, começou a chorar e me contou que nem as próprias filhas haviam
percebido e me agradeceu muito por ter percebido e falado. Para mim, não mudava
nada o fato de falar ou não, significavam apenas palavras; mas para aquela
senhora, isso expressava que ela tinha valor. Trouxe um pouco de vida e alegria
para o dia triste dela.
Não
falo de mentir para agradar às pessoas, e sim de aproveitar as oportunidades
para encorajá-las. A questão é que quando estamos bem com nós mesmos, mesmo que
aquilo que vemos não seja muito do nosso agrado, olhamos e achamos lindo, pois
nosso coração está cheio de amor. Se trata de pequenos gestos simples.
É
muito comum cumprimentarmos as pessoas e perguntarmos: - está tudo bem? Mas
geralmente não estamos dispostos a parar e ouvir o que as pessoas desejam compartilhar.
Por muitos anos, tive esse hábito, pois eu não tinha tempo para isso, estava sempre
correndo atrás do tempo. Até que parei todas as minhas atividades e tive
tempo. A partir do momento que parei para perguntar e passei a demonstrar que
estava disposta a ouvir, as pessoas começaram a me responder e compartilhar
coisas que precisavam colocar para fora.
Com
isso, comecei a enxergar a importância de emprestarmos os nossos ouvidos.
Quando temos essa disposição, as pessoas se abrem conosco e podemos conhecê-las
de alguma maneira. As pessoas anseiam por alguém que as escute. É interessante
fazermos perguntas para demonstrar interesse e preocupação. Algumas pessoas não
têm ninguém com quem conversar e poucos minutos que dispusermos, serão de
grande valor.
Como
tenho permanecido mais em casa nos últimos anos, o meu tempo está mais flexível
e me possibilita ouvir mais às pessoas. Cada pessoa que empresto meus ouvidos,
não apenas compartilha algo pessoal e se sente especial, mas de uma maneira ou
outra, me ensina e me trás crescimento. As pessoas são os seres de maior valor
que existe na terra, só que esquecemos disso e gastamos muito tempo com coisas
sem importância.
Com
o tempo, precisei me policiar, pois aquilo que poderia fazer para expressar
valor para determinadas senhoras, não poderia fazer com outras, como com
pessoas da cultura japonesa, por exemplo. Obviamente, algumas japonesas que
vivem no Brasil se adequaram mais à nossa cultura, no entanto, grande parte
delas ainda é mais reservada. Se eu fizer um elogio para uma vizinha japonesa,
poderá ser uma situação constrangedora, visto que ela poderá se sentir “invadida”
ou constrangida, bem como poderá considerar falta de bom senso.
Com
estas vizinhas, procuro prezar mais pela educação, abrir e segurar as portas
para elas passarem, me oferecer para ajudar a carregar bolsas ou sacolas, e
apertar o botão do andar no elevador. São pequenos gestos que expressam que
elas tem valor. Após algum tempo, vou conquistando espaço, puxando conversa, e
elas se sentem mais à vontade para conversar.
Um
cuidado que devemos ter, é com os homens, principalmente. As nossas atitudes
podem representar para eles que temos intenções, que na verdade, nem se
passaram pela nossa cabeça. Certa vez, fui beber água quando estava na
academia, eu estava na frente dos copos, e logo em seguida, chegou alguém do
meu lado. Peguei e entreguei um copo para a pessoa. Quis ser educada e gentil,
mas quando olhei para ver se era um homem ou mulher, vi que era um homem
casado. Depois daquele dia, ele ficava me olhando enquanto fazia os exercícios
e veio novamente atrás quando eu estava bebendo água. Tentou puxar conversa,
entendendo que eu havia dado abertura com a entrega do copo. Precisei ser muito
séria e fria para acabar com qualquer interpretação errada da parte dele.
Outro
fato foi com um vizinho. Ele era trinta anos mais velho do que eu, um professor
e coordenador universitário, solteiro. Era bastante gentil e comunicativo.
Certo dia, nos encontramos no elevador e ele me perguntou onde eu estava indo. Por
bobeira, comentei que estava indo fazer um trabalho. Bem prestativo, perguntou-me
o assunto e disse que era a área dele. Portanto ofereceu-se para me emprestar
alguns materiais, e como eu estava precisando mesmo, aceitei. Quando eu disse
que aceitava os materiais, ele entendeu que eu estava interessada nele e ficou
me convidando para ir ao seu apartamento. Eu já havia visto vários homens mais
velhos com moças mais novas, mas jamais ia pensar que um cara daquela idade
mexeria comigo.
Esse
tipo de situação se repetiu diversas vezes, quando ao tentar ser agradável e
gentil, transmiti uma mensagem errada a respeito da minha intenção. Não posso
culpar nenhum destes homens. Cabia a mim saber o que falar e fazer, e por falta
de entendimento a respeito da compreensão masculina, acabei errando. O
importante foi que aprendi muito com estes erros e não precisei mais repeti-los.
Essa
também é uma demonstração de amor. Quando eu aprendo que aquilo que estou
fazendo, mesmo que seja um ato de educação, de bondade ou gentileza, pode estar
gerando algo negativo. Num caso assim, a minha maior demonstração de amor será
ter uma postura prudente diante da situação.
Desta
maneira, percebemos o quanto é importante conhecermos as pessoas. Sabermos que
cada ser é completamente diferente do outro. O nosso sucesso nos
relacionamentos, está em nos colocarmos no lugar do outro e saber como lidar.
Tenho
amigas que acham o máximo a ideia de alguém pedi-las em casamento em público.
Outras apreciam muito que liguem para dar os parabéns nos seus aniversários.
Algumas amam conversar pelo telefone. Muitas não gostam de usar óculos de grau.
Outras gostam muito de sair e ir em eventos cheios de pessoas. Outras ainda,
adoram sair para comprar roupas e até de provar diversas peças, gostam de
caminhar devagar e apreciar. São características pessoais delas. Já no meu
caso, não gostaria que me pedissem em casamento em público, preferiria em
particular. Não gosto muito que me liguem para dar os parabéns, prefiro que me
enviem uma mensagem pelo celular ou online, ou me deem só um abraço se me
verem. Não gosto muito de ficar conversando pelo telefone, prefiro conversar
pessoalmente. Adoro usar óculos de grau e aprecio as pessoas que usam, para
alguns representam apenas lentes para melhorar a visão, para outros é um
acessório que agrega no estilo. Eu até gosto de sair para ir em um restaurante
calmo, dar uma volta, contudo, prefiro mil vezes ficar em casa e assistir um
filme ou fazer alguma outra coisa nas horas de lazer. Até vou em shows de
cantores que gosto muito; palestras, pois todos ficam sentados; gosto de
teatros e orquestras; mas não suporto ambientes muito escuros e com aglomerados
de pessoas, me faz mal. Até mesmo supermercados muito grandes e cheios de
pessoas, me desagradam. Eu não gosto de sair para comprar roupas, exceto que
esteja em uma cidade ou local propícios para aproveitar os preços e modelos que
gosto. De maneira geral, quando preciso de algo que não é urgente, por exemplo,
deixo o dinheiro guardado e quando saio para comer algo ou dar uma volta, dou
uma olhada, e somente se gostar muito, faço a aquisição. Não gosto de ficar
provando roupas, só provo se realmente tenho interesse e dinheiro para levar.
Quando preciso comprar algo específico para determinada ocasião, sou
extremamente focada, passo nas lojas rapidamente e meus olhos só “enxergam”
aquilo que estou procurando. Mesmo quando estou calma, tenho pernas longas e
costumo caminhar rápido. Isso não me impede de ver o que desejo ou preciso, nem
mesmo de observar detalhes, meus olhos e mente foram treinados para operar com
velocidade.
O
que quero dizer com isso? Que cada um de nós tem características peculiares
completamente diferentes dos outros, assim sendo, só passamos a conhecê-las
através da comunicação e relacionamento. É muito incoerente afirmarmos que
amamos alguém, se não estamos dispostos a conhecer à outra pessoa.
Os
relacionamentos criam laços. Ao mesmo tempo que é um fato positivo, pode ser
negativo. Principalmente, quando se trata da relação com o sexo oposto. Por
isso que devemos cuidar com os assuntos que abordamos. No trabalho, por
exemplo, tratamos de assuntos profissionais, podemos falar de esportes, carros,
comércio, diversos assuntos gerais, mas evitar ao máximo compartilhar situações
pessoais que envolvam as emoções. As emoções só devem ser compartilhadas com o
parceiro no casamento, com a família, com amigos do mesmo sexo ou pessoas que
de alguma maneira, poderão nos ajudar ou aconselhar. Em outras circunstâncias,
poderão resultar na destruição de um casamento e uma família. Mesmo que não exista
nenhuma intenção amorosa numa amizade, ao compartilharmos, estamos depositando
“valor” como em uma conta corrente, e com o tempo, o crédito começa a ficar
elevado, até que desperte o desejo de realizar o “saque”. É um fator natural da
nossa natureza humana, e não adianta tentarmos contornar isso, o coração humano
se comporta dessa maneira.
Portanto,
nosso alvo é conhecer as pessoas para aprendermos a amá-las. Cada pessoa se
sente amada de maneiras diferentes. Algumas aprenderam a entender quando as
pessoas estão expressando carinho e amor. Outras não entendem, desta forma,
precisamos nos esforçar para expressar corretamente. A individualidade humana é
algo fascinante, as diferenças se completam e formam um contexto social
maravilhoso. O desafio é cada um saber valorizar as diferenças ao invés de ter
seus hábitos e opiniões como padrão.
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