Há alguns anos, ouvi uma história muito rápida e ela ficou gravada na
minha mente. Era a história de um casal, na qual um dos cônjuges costumava
comer a casquinha (o casco, o final) do pão de fôrma. Algum tempo se passou, e
houve uma briga entre esse casal. Na hora da briga, o assunto da casquinha do
pão veio à tona e descobriram que aquele que comia a casquinha, fazia isso como
um sacrifício, enquanto que o outro, gostava da casquinha e estava abrindo mão
daquilo que gostava para que o cônjuge pudesse desfrutar.
Com características semelhantes, meu pai conta uma outra história. Certo
dia, ele participou do aniversário de casamento de 40 anos de um casal. No dia,
o noivo deu uma frigideira de presente para a esposa. Durante o evento, meu pai
foi perguntar para a noiva como haviam sido os quarenta anos de casados, e ela
muito decepcionada, reclamou que o homem só dava de presente utensílios para a
casa ao invés de dar presentes que fossem para o uso pessoal dela. A vontade
dela era bater com a frigideira na cabeça dele. Neste momento, meu pai
perguntou a ela se alguma vez ela havia dito que não gostava de ganhar itens
domésticos de presente, e ela respondeu que ele deveria saber. Portanto, meu
pai disse a ela que se ela ganhava apenas essas coisas, a culpa era dela, pois
tudo poderia ter sido diferente se ela simplesmente falasse ao esposo o que
gostaria de ganhar. Ele dava àquelas coisas porque pensava que era aquilo que
ela gostava.
As duas histórias são muito simples, no entanto, apresentam uma infeliz
realidade, a falta de comunicação e diálogo, bem como a falha em expressar
nossas expectativas e sentimentos diante das coisas.
Expressar as nossas expectativas não significa que devemos ficar falando
o tempo todo o que queremos, como se as pessoas tivessem que viver à nossa
disposição; significa simplesmente que precisamos nos abrir e falar aquilo que
gostamos, o que não gostamos, aquilo que nos deixa felizes, tristes,
inspirados, depressivos, confiantes, inseguros, dentre centenas de outros
sentimentos que possam surgir.
Como alguém pode nos agradar se não sabe como fazer isso? Esse hábito
deve estar presente principalmente dentro da família, contudo, aonde quer que
estejamos, deixar que as pessoas saibam o que nos agrada ou não, pode ser muito
favorável para uma relação mais saudável e agradável.
Eu por exemplo, sou uma pessoa simpática e bastante acessível para
conversarem comigo, porém, apesar de sorrir constantemente, não sou muito fã de
piadas e brincadeiras, muito menos brincadeiras sarcásticas que constrangem as
pessoas. Costumo me colocar à disposição para ouvir o que as pessoas gostariam
de compartilhar. Deixo que se abram, mas não fico fazendo perguntas pessoais
que possam fazer com que sintam invadidas. Faço muitas perguntas, todavia,
perguntas gerais que demonstrem que as pessoas têm valor e que deem liberdade
para que possam conversar sobre o que desejarem.
Não tenho problemas em contar histórias que vivenciei no passado, só que
quando estou vivendo algo, prefiro me abrir somente com pessoas que possam me
ajudar, ao invés de ficar me expondo e transferindo peso para as pessoas ao meu
redor. Não é nem uma questão de confiança, penso que seja bom senso. Ficar se
expondo não resolve os problemas, e o objetivo ao falarmos com alguém, deve ser
para termos alguma direção que não conseguimos enxergar, ou auxílio para
encontrar alguma solução.
Ao mesmo tempo que não abro minhas emoções, costumo compartilhar aquilo
que penso e gosto, permito que as pessoas me conheçam, e percebo o quanto isso
cria afinidade. Estimulo as pessoas ao meu redor para que façam o mesmo.
A parte legal disso, é que quando conhecemos aquilo que as pessoas
gostam e vamos viajar, por exemplo, ao vermos determinadas coisas, vinculamos
às pessoas que gostam de tais coisas e nos lembramos delas. Já comprei muitos
presentes que me fizeram lembrar de pessoas que vivem ao meu redor, coisas
simples, mas que demonstraram que eu as amo e lembrei delas.
Em uma festa que fizemos, honrei meu avô materno e agradeci ele por
todas as vezes que fez churrasco quando o visitamos, afirmando que churrasco é
o que eu mais gosto de comer. Após este dia, fomos visitar várias famílias que
estavam na festa, e a maioria delas, fez churrasco para nos oferecer, e na hora
de comer disseram que haviam pensando em algumas opções, mas como a Aline
gostava de churrasco, optaram em fazer churrasco. Acho incrível como as pessoas
gravam, mesmo depois de muito tempo.
Tenho amigas próximas que não perdem a oportunidade de demonstrar que me
amam. Quando vão em algum evento, por exemplo, se ganham docinhos para levar
para casa, trazem alguns para mim. Nos dias que fazem receitas novas ou receitas
que sabem que eu gosto, trazem um pedaço. Nas viagens que fazem, costumam
trazer lembranças de coisas que tem a ver com o que eu gosto.
Gosto muito de caixas, de itens com estampa de onça, zebra e romero
britto, e não apenas minhas amigas, mas muitas pessoas ao meu redor, já
compraram presentes sem motivo, simplesmente porque viram algo, lembraram de
mim e acharam a minha cara.
Existem dois lados nesta situação: o nosso e o do próximo. Nós
precisamos expressar o que gostamos e ao mesmo tempo, precisamos ter disposição
e demonstrar interesse em saber aquilo que as pessoas ao nosso redor gostam.
Imagine que um homem compre um perfume importado muito caro para a
esposa, só que esse perfume é doce e ela não suporta perfumes doces, o que irá
acontecer? Ou a esposa usará para não desfazer o marido, e ficará agoniada
durante muito tempo; ou ela irá falar a verdade e machucar o marido, fazendo
uma desfeita. Agora, imagine que a mulher sonhe em ter um perfume que ela nunca
teve condições de comprar, e o marido chega exatamente com esse perfume, como
resultado do que soube por meio das conversas frequentes que eles tiveram e do
interesse que ele tem em realizar os desejos dela, qual será o efeito do
presente? O máximo.
É um detalhe muito pequeno, no entanto, mostra como conhecer o outro é
essencial, assim como demonstra que uma mesma situação pode ter resultados tão
diferentes.
Ter essa disposição é importante dentro de uma empresa, numa classe de
acadêmicos, em um ministério, contudo, principalmente dentro da família. A família
é o núcleo da vida de uma pessoa, e tudo o que ocorre dentro dela, por mais
simples que seja, irá refletir em todos os demais contextos.
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